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Esquizofrenia: integrar ou ignorar?

  • Foto do escritor: Marta Temporão
    Marta Temporão
  • 14 de ago. de 2020
  • 4 min de leitura

Os transtornos esquizofrénicos caracterizam-se por distorções do pensamento e da perceção e alterações do comportamento. Isto pode acarretar um enorme impacto no dia-a-dia da pessoa que padece desta doença, cuja capacidade para cuidar de si e dos restantes acaba por diminuir, e tem impacto nos cuidadores, nos familiares e amigos, pela sobrecarga física, mas sobretudo pela sobrecarga emocional (MAYO; NIMHI, 2020; NHS, 2019).

Os sintomas desta doença podem ser:

  • Ilusões: falsa crença, não baseada na realidade. Tome-se como exemplo a crença que determinados gestos ou comentários são dirigidos ao próprio.

  • Alucinações: usualmente, tem que ver com ouvir ou ver coisas que não existem, mas podem ser de outros tipos.

  • Pensamento desorganizado: apresentar um discurso desorganizado ou pensamento não usual, em que as questões e as respostas não estão relacionadas.

  • Desorganização extrema ou comportamento motor anormal: há várias formas de demonstrar este sinal, desde um comportamento mais infantil a uma agitação não previsível. Estas alterações no comportamento incluem resistência a instruções, postura inapropriada ou até mesmo movimentos desnecessários e excessivos.

  • Sintomas negativos: referem-se à redução ou falha na capacidade para funcionar no dia-a-dia. Verifica-se quando a pessoa negligencia cuidados de higiene pessoal, tem perda de emoções, demonstradas pela perda de expressão facial, perda de interesse nas atividades sociais, entre outros.

  • Sintomas cognitivos: inclui problemas de concentração, memória e atenção (MAYO; NIMHI, 2020; NHS, 2019).

Os sintomas podem variar em duração e severidade ao longo do tempo, e alguns podem estar continuamente presentes.

Tipicamente os primeiros sintomas manifestam-se na segunda década de vida, surgindo, em geral, mais precocemente no género masculino do que no feminino (MAYO).

Também podem emergir na adolescência, embora possam ser mais difíceis de reconhecer. Comparando os sintomas entre a fase adulta e a adolescência, os adolescentes tendem a ter menos ilusões e mais alucinações visuais.

Ainda não se sabe a causa da esquizofrenia, mas acredita-se que resulte de uma predisposição genética, combinada com fatores químicos no cérebro, como a dopamina e glutamato, e fatores ambientais (MAYO; NIMHI, 2020; NHS, 2019).

A presença de alguns fatores pode aumentar o risco ou despoletar esquizofrenia, como sejam:

  • história familiar de esquizofrenia;

  • fatores ambientais, como viver na pobreza ou num ambiente stressante;

  • complicações na gravidez ou parto, como malnutrição ou exposição a toxinas ou vírus (Costas-Carrera, et al., 2020);

  • consumo de drogas psicotrópicas ou psicoativas (MAYO; NIMHI, 2020; NHS, 2019).

Ainda não existem certezas sobre como prevenir o aparecimento desta doença. É certo que o tratamento precoce e a adesão ao plano de tratamento podem ajudar a prevenir crises ou agravamentos dos sintomas, antes que surjam graves complicações (MAYO; NIMHI, 2020).

O tratamento da esquizofrenia é crónico, mesmo que não esteja em fase aguda. Muitas estratégias farmacológicas e não farmacológicas têm vindo a ser adotadas, porém continua a ser uma doença difícil de diagnosticar e tratar, dadas as suas características multifatoriais e dada a resistência do paciente (NIMHI, 2020; Radaic & Matins-de-Sousa, 2020).

O tratamento passa por medicação, como antipsicóticos, que auxiliam a gestão dos sinais e sintomas. Estes medicamentos têm efeitos secundários graves e, portanto, muitos doentes podem sentir-se relutantes em tomá-los.

Adicionalmente ao tratamento farmacológico, a terapia psicossocial também auxilia no tratamento desta doença, pois melhora a gestão da doença, o que por sua vez melhorando a reintegração na sociedade. As intervenções neste âmbito podem ser:

  • Terapia individual: pretende ajudar a normalizar os padrões de pensamento, lidar com o stress, e identificar sinais e sintomas da doença;

  • Treino das competências sociais: foca-se na melhoria da comunicação e na forma como lidam com as pessoas no dia-a-dia;

  • Terapia familiar: baseia-se no apoio aos cuidadores;

  • Reabilitação: ajuda as pessoas com esquizofrenia a preparar-se para uma vida em sociedade e na procura de trabalho (NIMHI, 2020).

As formas de tratamento e reintegração não são exclusivas aos profissionais de saúde. Os cuidadores, familiares e amigos têm um papel fundamental. Algumas ações que podem ser tomadas para ajudar as pessoas que padecem de esquizofrenia são:

  • Ajudá-los a procurar tratamento e incentivar a realizá-lo;

  • Fazer as perguntas certas nos momentos de alucinações e ilusões;

  • É importante respeitá-los, suportá-los e tentar controlar momentos de comportamento inapropriado;

  • Vigiar possíveis tentativas de suicídio, já que estes pensamentos e comportamentos são comuns entre pessoas com esquizofrenia;

  • Procurar e participar em grupos de suporte (NIMHI, 2020).

No sentido de manter o bem-estar mental do cuidador, existem algumas formas que podem contribuir para isso mesmo:

  • Perceber esta doença, pois é uma forma de entender os comportamentos. Com isto, perceberá que perguntas deve colocar e que comportamentos deve adotar consoante o estado do doente;

  • Pedir ajuda a serviços sociais, se necessário. Cuidar de pessoas com doenças mentais é complexo e pode haver momentos de stress, que podem ser resolvidos com apoio de profissionais.

  • Aprender e realizar técnicas de relaxamento;

  • Participar em grupos de apoio (MAYO).

Existem várias formas de apoio clínico e não clínico para as pessoas com esquizofrenia e para os seus cuidadores. Viver com isto é desafiante, mas é possível viver integrado na sociedade!




Referências bibliográficas:

Costas-Carrera, A.; Garcia-Rixo, C.; Bitanihirwe, B.; Penadés, R. (2020). Obstetric complications and brain imaging in schizophrenia: A systematic review. Biological Psychiatry: Cognitive Neuroscience and Neuroimaging. https://doi.org/10.1016/j.bpsc.2020.07.018

Nation Health Service (NHS). (2019). Schizophrenia. https://www.nhs.uk/conditions/schizophrenia/

Raaic, A.; Matins-de-Souza, D. (2020). The state of the art of nanopsychiatry for schizophrenia diagnostics and treatment. Nanomedicine: Nanotechnology, Biology and Medicine. https://doi.org/10.1016/j.nano.2020.102222

The National Institute of Mental Health Information Resource Center (NIMHI). (2020). Schizophrenia. NIH. https://www.nimh.nih.gov/health/topics/schizophrenia/index.shtml


 
 
 

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